IGREJA PAROQUIAL DO SENHOR BOM JESUS

 

Segundo vários historiadores, designadamente Gaspar Fructuoso, em “Saudades da Terra”, Urbano Mendonça Dias, na “História dos Açores” ou Joaquim Cândido Abranches, no “Álbum Michaelense”, já existia perto do local da actual Igreja Paroquial e antes do terramoto de 22 de Outubro de 1522, que soterrou Vila Franca do Campo, uma Capela no lugar de Rabo de Peixe, dedicada ao Senhor Bom Jesus.

Tem este lugar uma igreja de Bom Jesus, cuja festa principal se celebra o primeiro dia de Janeiro – lê-se em Saudades da Terra.

No início do povoamento deste lugar, que ocorreu por volta do ano de 1490, os primeiros moradores, depois das suas toscas habitações, iniciaram a construção de uma pequena ermida, sob a invocação do Senhor Bom Jesus. Passados 500 anos ainda assim é. No primeiro dia do ano novo, o povo da freguesia costuma tributar ao seu Patrono uma festa eminentemente eucarística, soleníssima e muita participada.

À semelhança dos demais locais da Ilha, segundo Marinho dos Santos, naquela altura do povoamento, o primeiro ritual constituiu na consagração do espaço que era estranho, caótico, povoado de demónios. Um sinal sagrado procurava, portanto, pôr ordem no caos imaginado. O espaço habitado pelos homens foi sendo, por conseguinte, simbolicamente demarcado, referenciado com sinais do sagrado.

Foi, portanto, o que aconteceu neste lugar. Muito cedo, edificaram a primeira ermida, pressupondo-se que terá sido por ocasião da viragem dos anos quatrocentos para quinhentos.

Na década de 60 (1560) – segundo João Marinho dos Santos, ou seja 38 anos depois do terramoto de Vila Franca do Campo, foi erigida a igreja nova, perto do mesmo sítio.

A construção da Capela-Mor deverá ter tido início antes do ano de 1690, altura em que, segundo o “Arquivo dos Açores” foram pagos à Alfândega de Ponta Delgada 70$000, por aquela construção, bem como pela sacristia.

Nas grandes obras de remodelação, empreendidas em 1989, foram surpreendentemente encontrados os nichos dos antigos altares laterais e estes têm características góticas e que correspondem aos altares primitivos, ou seja aos do século XVI. Mais tarde no século XVIII foram cobertos por madeiras com douramentos, ao gosto da gramática decorativa do estilo barroco, muito comum e em voga nas Igrejas desta Ilha.

Neste último restauro, houve quem defendesse que se deveriam restaurar os primitivos altares góticos de 1560. Todavia, outra versão prevaleceu com o argumento da inestética coexistência de uns altares de talha e outros de pedra basáltica. Os trabalhos de recuperação dos altares, em 1990, estiveram a cargo de uma equipa da cidade de Braga, chefiada por Domingos Silva e que se deslocou propositadamente a esta ilha para proceder ao seu douramento com ouro verdadeiro e não ouro de “Hamburgo” que é uma imitação.

Entretanto, segundo confirma o “Arquivo dos Açores” a Torre com os sinos da Igreja só ficou concluída em 1735, embora já em 1734 tivesse sido adquirido um sino pelo valor de 180$000.

A Igreja Paroquial do Senhor Bom Jesus é, portanto, de 1735, que e a altura da conclusão da respectiva Torre com a colocação do sino. Esta e a data que deveria ser considerada numa lapide, que parece nunca chegou a existir. A sua construção levou 150 anos, tendo-se iniciado, como atrás foi referido, em 1560.

A actual configuração, em planta basilical românica, permanece até aos nossos dias, constituindo um dos maiores templos da ilha. Está situado na frente de uma formosa baía, que faz daquele local um aprazível miradoiro e do qual se avistam as Bretanhas.

Em 1737, foram pagos aos entalhadores da Capela-Mor a quantia de 104$000 e aos respectivos pedreiros o valor de 245$200. Em 1758, foi o último pagamento dos carpinteiros – 50$000, carpina- 100$000, pintura- 100$000 e ornamentos- 100$000, segundo se pode confirmar no “Arquivo dos Açores”, iniciado em 1876.

Contudo, no “Album Micaelense”, de Joaquim Cândido Abranches, fala-se na reconstrução da Igreja do Senhor Bom Jesus há mais ou menos 70 anos, ou seja por volta de 1795, podendo esta data (cerca de quarenta anos mais tarde) significar alguns últimos trabalhos na estrutura do edifício.

Este templo, de estilo barroco, e composto por ampla nave centrai e duas laterais, encimadas de frescos. As três naves são separadas por arcos de volta, suportados por colunas quadrangulares de pedra basáltica e ainda por um grande arco triunfal a entrada da capela-mor com as armas reais.

No seu interior existem alguns altares revestidos por retábulos de talha de certo valor, designadamente o altar-mor do século XVIII, em tudo correspondente à gramática decorativa do barroco. É um imóvel com duas abas, em cujo frontispício encontramos os SS, que são características barrocas.

Realçam-se neste templo as portadas do Baptistério e a Capela do Santíssimo, de excepcional valor artístico, que já foi a Capela da Senhora do Rosário. As portas de talha dourada da Capela do Santíssimo, à semelhança do que aconteceu com as de 5. Pedro da Ribeira Seca, da Conceição e Matriz da Senhora da Estrela, foi obra dos grandes entalhadores a família de Araújo Lima, da Ribeira Grande, nos finais de século XIX.

Segundo Luís Bernardo Athayde4, esta Capela foi pintada e decorada por João Albino Peixoto. Ela possui riquíssimos efeitos em talha doirada e constitui, de facto, um dos exemplares mais expressivos de S. Miguel e dos Açores.

De celebrar ainda nesta bela Igreja, os azulejos da capela-mor que foram feitos, em 1962 na Fábrica Viúva Lamego, de Lisboa e pintados pelo aguarelista Alves de Sá. São os últimos azulejos antigos conhecidos nesta ilha. A escolha foi recomendada por Santos Simões e encontra-se referida na sua obra “Azuleijaria”

A Igreja Paroquial do Senhor Bom Jesus é considerada pela crítica de arte, como um dos exemplares barrocos mais puros e mais belos, bem patente na sua dimensão e na sua proporcionalidade, um dos mais amplos da ilha.

Nesta igreja existem algumas alfaias religiosas de valor, sendo de destacar uma Custódia de finíssima arte sacra, além de cálices, píxides e antigos crucifixos de prata ainda utilizados nos ofícios religiosos e quase todos expostos em vitrine própria na sacristia da Igreja, além da Cruz Paroquial em prata e de grande valor.

No que diz respeito à iconografia, de referir alguns ícones de inspiração mariana muito expressivos, designadamente do da Senhora da Vida e de uma pequena imagem da Senhora do Rosário, junto ao altar de S. José.

É, no entanto, a Imagem do Padroeiro- o Senhor Bom Jesus, trazida para aquela Igreja, a mando do pároco Pe. José Rapozo Pombeiro de Menezes, em 1928 ou 1929 (não conseguimos através do testemunho oral de alguns idosos da freguesia precisar qual das datas a correcta), que domina todo o vetusto Templo.

O monumental Crucifixo do Senhor Bom Jesus, que veio substituir um outro de menor dimensão, está localizado na Capela-Mor e esta imagem nunca saiu daquela Igreja. Ocasiões houve em que se teve de recorrer à primitiva Imagem do Senhor Crucificado, para ser incorporado em procissões religiosas.

A Capela-Mor é, assim, dominada pelo cenário do Calvário,

Dado que se encontram ainda a Virgem e S. João – o Apóstolo amado, a ladear a Cruz.

O Sacrário, colocado nesta Capela possui uma portada em prata muito trabalhada, nele encontrando-se uma inscrição registando a oferta do Padre António Moniz, ou seja de Frei António do Presépio Moniz, que mais adiante se fala, como ilustre filho desta freguesia.

Salienta-se ainda uma Imagem do Senhor dos Passos que se presume ser do Século XVIII, que se incorpora na procissão da Via Sacra que, anualmente, que percorre no III Domingo da Quaresma os “Passos” da freguesia. Rabo de Peixe é um dos poucos locais onde em S.Miguel ainda se realiza tal procissão.

A imagem de Santa Inês é uma das muito poucas existentes nesta ilha.

Refiram-se ainda as importantes obras de restauro levadas a cabo neste templo, iniciadas em 1953 e concluídas em 1 de Janeiro de 1964, quando era Pároco o Pe. António Vieira, Vigário da Paróquia do Senhor Bom Jesus, durante duas décadas, sendo coadjutor na altura o Pe. José Fernandes Medeiros.

Foram então introduzidos novos elementos decorativos, designadamente o revestimento das paredes da Capela-Mor com azulejos de Alves de Sá e o tecto com motivos florais e com alusões aos evangelistas, obra do Vilafranquense José Cabral, em 1963.

Em 1959, uma equipa 13 canteiros, chefiada por José Pimentel Amaral, da qual fazia parte seu filho José Luís Pimentel Amaral e José Pedro Sousa, todos de Rabo de Peixe, restituiu as colunas à sua traça original, ou seja ao descobrimento do basalto. O Eng.° Valente, dos Serviços de Urbanização da Junta Geral do Distrito de Ponta Delgada, orientou as obras, estando a fiscalização a cargo de Alberto Pacheco.

Esta mesma equipa, introduziu ao redor das paredes interiores um lambril de pedra basáltica da Povoação, e retirou a talha do arco triunfal da Capela-Mor, ficando este com a antiga pedra.

 

Encimando este arco, encontra-se um grande escudo com o símbolo da realeza, com a antiga bandeira e coroa da monarquia portuguesa.

Ao mesmo tempo, aqueles mestres recuperaram a pia baptismal, tendo-lhe sido aduzida um novo pegão com efeitos decorativos, tomando-a mais rica.

Na mesma altura, os mestres António Valério e José Albano fizeram uma nova bancada para a Igreja e nivelaram o chão do templo, acabando-se com o degrau então existente. No entanto, este ficou com um desnível imperceptível de 15 cm.

As grades de ferro laterais, que permitia separar as senhoras dos cavalheiros, quando assistiam aos ofícios religiosos em lugares diferentes, foram retiradas, colocando-se em substituição uma separação horizontal, ficando as mulheres à frente e homens atrás.

Na mesma altura, foi construído um artístico cadeiral na capela–mor por estes marceneiros, substituindo um outro que foi colocado no coro.

À semelhança do que acontecia na sé de Angra, antes dó terramoto de 1 de Janeiro de 1980 e em outras Igrejas da Região, havia nesta Paroquial do Bom Jesus um coro redondo entre o púlpito do lado esquerdo e o arco da Capela-Mor, o dos Beneficiados, que foi retirado no início deste século.

ERMIDA DA SENHORA DO ROSÁRIO

A ermida da Senhora do Rosário foi outrora e antes da construção da Matriz, a Paroquial da freguesia e mandada construir após o sismo de 1522. Situada numa colina, junto às casas que, segundo Urbano Mendonça Dias, foram de Bartalomeu Rodrigues de Sousa, que morreu em 1606 e de Inês Correia, filha de Ana Lourenço e Rui da Costa. Bartalomeu Rodrigues Sousa era filho de Bartolameu Roiz, do Pico da Pedra. Aquela Ermida veio dar o nome à rua que por ela passa e era a artéria que fazia a ligação com Rosto do Cão.

O primitivo templo é uma construção do Séc. XVI, pois Gaspar Fructuoso já faz referência em “Saudades da Terra” à sua existência

Mais tarde, em 1830, foi totalmente reconstruída no mesmo lugar uma nova ermida, tendo actualmente uma feição marcadamente do Século XIX, composta apenas por uma nave e um coro alto.

No entanto, na fachada principal está inscrita a data de 1854, que assinala a conclusão daquelas obras. Como exemplo, pode-se apontar a largura das fachas de lavoura do frontispício já estreitas, a contrastar com as largas

Contudo, em 1947, numeroso grupo de emigrantes radicados nos Estados Unidos mandou proceder a novas obras de beneficiação, existindo, por via disso no interior da ermida uma lápide que assinala o facto.

Neste templo encontra-se uma Imagem do Séc. XVIII da Senhora do Rosário, que costuma integrar a procissão que se realiza na Segunda-feira das festividades em sua honra- o I Domingo de Outubro de cada ano.

O adro da ermida constitui um miradoiro desconhecido para muita gente, dado não estar incluído nos roteiros turísticos. Do alto da pequena colina pode apreciar-se um enquadramento paisagístico da ilha.

O acesso a esta ermida pode ser feito pela rua do Rosário ou, então, por uma extensa escadaria, composta de 50 degraus, que vai desde uma antiga moagem de Mariano Brum Gouveia na Rua Nova, actualmente apelidada de Rua Sá Carneiro, ou pela antiga Rua do Arriba, actualmente conhecida por Padre João Jacinto de Sousa.

 

ERMIDA DE SÃO SEBASTIÃO

 

A ermida de S. Sebastião, situada no Cabo do Lugar, é um dos exemplares mais expressivos do Século XVIII, mandada construir no ano de 1712.

 

No entanto, trata-se de uma nova ermida, mais rica que veio substituir uma outra muito modesta. Esta tese baseia-se no facto de Gaspar Fructuoso, antes de morrer, em 1591 já dela falar, localizando-a com precisão: Tem esta freguesia duas ermidas: uma de Nossa Senhora, que dantes era a paróquia até que fizeram a que é agora matriz, abaixo, abrigada e acompanhada antre as casas; e outra de São Sebastião, no Cabo do Lugar, para ao ponente

É nesta ermida onde se encontram, segundo Santos Simões, belíssimos azulejos do Século XVII, retractando o Santo Mártir em situações de suplício, tanto no interior, como no exterior do Templo, As paredes da capela são revestidas de azulejos e tem um bonito tecto de pedra lavrada.

A ermida faz parte integrante de uma casa de moradia, com um pitoresco arco que liga uma à outra e oferece um trecho de feição acentuadamente antiga. O frontispício da Ermida tem a portada de verga dupla ornada com fusos entre suásticas.

Nesta pequena ermida, de estilo maneirista, existe uma imagem rara de S. Tomás de Aquino, atribuída ao início do Século XVIII, além da Senhora da Lapinha que, outrora, se encontrava numa ermida com aquele nome no conhecido lugar da Lapinha, perto das Courelas. Ainda hoje encontramos as paredes do referido templo.

A ermida está ligada à casa solarenga que foi pertença do morgado e benemérito da Misericórdia da Ribeira Grande, Maurício Arruda.

Segundo Urbano Mendonça Dias(2), relata-nos que esta Ermida pertenceu ao vínculo de Sebastião d’Arruda da Costa, pai de Maurício Arruda.

Anualmente, a 20 de Janeiro, manda a tradição que os militares da freguesia levem a imagem de S. Sebastião em solene procissão, invocando o Santo intercessor da fome, da peste e da guerra. O andor, conforme o costume é ornado com uma árvore, à semelhança do que no século XVIII se fazia na Matriz de Ponta Delgada. Actualmente uma tangerineira decora o andor. Vão-se espalhando ao longo do percurso processional, para gáudio da pequenada. Também vêm-se camélias vermelhas, oferta de devotos.

 

ERMIDA DA SENHORA CONCEIÇÃO

Situada na estrada regional da Ribeira Grande no lugar da Conceição das Vinhas, outrora conhecido por Mingachos, a ermida da Senhora da Conceição é o único monumento da freguesia que está classificado como património regional de interesse colectivo.

Assim, nos termos do Decreto Regional n.° 13/79/A, de 8 de Junho e por Resolução da Presidência do Governo Regional dos Açores, de 30 de Janeiro, foi classificado como imóvel de interesse público.

Trata-se de uma honra e de uma responsabilidade, pois há que preservá-lo convenientemente, como forma desta herança colectiva poder passar para os nossos vindouros, como testemunho arquitectónico de grande valor.

A Ermida de Nossa Senhora da Conceição das Vinhas foi edificada no Século XVII, embora os nossos cronistas antigos não falem dela. Tem um arco lateral de apoio aos peregrinos, constituindo um acrescento ulterior, que alguns eruditos, designadamente Jorge Gamboa de Vasconcelos, são de opinião que deve ser retirado-segundo cita o Boletim Paroquial da Ribeira Chã.

Esta Ermida de estilo maneirista possui um altar, com um maravilhoso frontal de azulejos do Século XVIII e que se vê rebrilhar. São cento e doze azulejos brancos e azuis que apresentam reminiscências imitativas das antepêndias têxteis, com ornatos barrocos do tipo escultório, classificação de Santos Simões, que procedeu na década de sessenta a uma prospecção azulegística nos Açores.

Esta Ermida até há bem pouco tempo estava acoplada ao pátio de entrada de uma velha casa do Séc. XVII e XVIII que foi demolida para o alargamento da Estrada Regional.

A ermida da Senhora da Conceição ficou por longo tempo, como já se disse, quase totalmente ignorada pelos novos e antigos cronistas de S. Miguel, sem explicação aparente.

Luís Bernardo Leite Athayde no seu opúsculo “Ermidas Micaelenses” de 1941 não a refere incompreensivelmente, embora no seu livro de 1928 “Reminiscências da vida antiga de S. Miguel” exista um desenho desta ermida sem nenhuma referência.

Foi Hugo Moreira quem encontrou no livro VI do maço 130 do Tablionato do Arquivo Distrital de Ponta Delgada, a escritura de dote de património feita por Manuel da Costa e sua mulher Luiza Francisca, no ano de 1713, para manutenção de ermida de Nossa Senhora da Conceição, por eles erecta anteriormente na sua vinha sita aos Mingachos de Rabo de Peixe, depois de devidamente autorizados pelo Bispo de Angra e Ilhas dos Açores, D. António Vieira Leitão.

A imagem de Nossa Senhora da Conceição, policromada, segue a estrutura dos cânones quinhentistas, importando, por isso, preservá-la, a fim de se evitar eventuais adulterações na decoração original.

 

ERMIDA DE SANT’ANA

 

No Caminho Velho de Santana encontramos num plano recuado a ermida de Sant’Ana. Tratando-se de uma zona de veraneio, onde acorrem muitos habitantes durante o período de Verão, aquela ermida servia para o culto particular das redondezas.

Actualmente e esporadicamente os ofícios religiosos são sobretudo realizados para o Grupo de Escoteiros da freguesia.

O edifício propriamente dito compõe-se de estrutura com dimensões adequadas a uma ermida, sendo a fachada de pedra de lavoura vulcânica a ladear o perímetro e ainda a porta e janela. Integra-se num local aprazível e bem enquadrado no pacato aglomerado.

Fica situada num prédio pertencente à família Frias Coutinho.

 

 

ERMIDA DA SENHORA DO PERPÉTUO SOCORRO

 

Situada no interior de uma quinta, a ermida da Senhora do Perpétuo Socorro é o mais recente edifício religioso construído na freguesia. Foi mandada construir por José Maria Amaral, conhecido entusiasta das romarias quaresmais. Manda a tradição que o Rancho de Romeiros de Rabo de Peixe seja o maior da ilha.

De estilo simples, este templo foi inaugurado em 1975 e é nele que têm lugar os sucessivos encontros de romeiros: No seu interior pode-se admirar a imagem da Virgem do Perpétuo Socorro com a sandália do Menino-Deus desprendida do pé.

 

QUADRO DE S. PEDRO

Na paroquial do Senhor Bom Jesus podemos encontrar uma pintura seiscentista de S. Pedro em Majestade. Trata-se de um quadro que os Rabopeixenses muito estimam. Foram feitas algumas tentativas exteriores no sentido de ser transferida para um Museu. Todavia, a população zelosa do seu património entende que o seu lugar é na igreja onde está depositado.

Identificado como da escola de Vasco Fernandes, o famoso Grão Vasco(1), desconhece-se com exactidão como aquela obra veio parar a Rabo de Peixe.

Este quadro, representando São Pedro sentado num trono, com vestes e tiara pontifícias, erguendo na mão direita, as chaves do Céu, faz lembrar, à primeira vista, embora com dimensões, menores, os grandes e maravilhosos painéis, da mesma evocação, existentes na Igreja de S. João de Tarouca e no Museu de Viseu, executados na primeira metade do século XVI, pelos dois maiores pintores da fulgurante época manuelina: – Cristóvão de Figueiredo e Vasco Fernandes.

Durante muitos anos estas duas obras primas da pintura portuguesa, foram atribuídas apenas a Vasco Fernandes, mais tarde cognominado “Grão Vasco”- razão porque pessoas mais ou menos entendidas na matéria atribuíram este quadro à Escola deste grande mestre.

Criou-se assim o mito desta atribuição, talvez por se ter atentado mais na similitude da atitude e dos atavios do Santo, do que nos factores presentes nos painéis e que muito os distinguem e distanciam do quadro em questão.

Assim, enquanto no quadro de Rabo de Peixe, a figura de São Pedro se encontra só, sentado num trono que não se define, e sem que mais nada o rodeie a não ser dois reposteiros colocados nas margens do quadro, nos painéis continentais, a composição é outra:

São Pedro está sentado num trono que, no painel de Cristóvão de Figueiredo, pintado no 10 quartel do século XVI, mostra bem o seu estilo gótico e, no painel de Vasco Fernandes, pintado no 2° quartel do mesmo século, o seu estilo renascentista, qualquer deles ladeado por dois altos postigos através dos quais se vêem paisagens e cenas religiosas que muito ajudam a inserir, no tempo e no espaço a figura de São Pedro.

Este também não tem, na sua mão direita, os seus principais atributos- as chaves do Céu- mão que se ergue somente para abençoar (prova de que os painéis foram feitos para maior glória do Santo e não para serem patronos de qualquer ermida ou igreja, onde então nunca costumam faltar) tudo isto acrescido de outros elementos decorativos.

Mas estas não são as principais diferenças. Mais profunda e mais importante do que estes aspectos, é a qualidade da pintura.

No quadro de Rabo de Peixe, a pintura, embora tendo já um bom nível técnico, não atinge o virtuosismo que se encontra nos painéis do continente.

 

FONTE: António Pedro Costa em “Rabo de Peixe 500 anos de História”